POSTO DE ESCUTA 21.05.2014

VainajaPrecisamente a meio da semana, propomos mais uma mão cheia de lançamentos para todos os gostos. A Suécia está em particular destaque, com o badalado old school, mas é da Finlândia que nos chega o mais excitante projecto da semana: os doomsters Vainaja, ainda assim com forte concorrência dos peruanos Capilla Ardiente. Numa semana em que a cena nacional nos “dá” os Chapa Zero e os Levities, demos também uma escutadela ao death metal dos holandeses Enraged, ao folk dos Noctooa e ao banho de sujidade, via death/black metal sul-americano, que é o split dos Hades Archer com os Slaughtbbath. Muitas e boas propostas para uma semana mais extrema. Aproveitem-nas!

Ambush_FirestormAMBUSH «Firestorm»
High Roller Records
Jovens, cheios de motivação e com apetência para o heavy metal old school, os suecos Ambush estreiam-se nos longa-duração com «Firestorm». São nove faixas com escrita, qualidade sonora e execução que tentam imular ao máximo os clássicos dos anos 80, conseguindo-o à conta do entusiasmo e de alguma espontaneidade nos arranjos. Por vezes perto do speed metal, outras a piscar o olho ao NWOBHM e com uma assertividade que deixa de lado procuras de novas soluções para uma fórmula já testada e que funciona, «Firestorm» pode agradar facilmente aos novos/velhos fãs de heavy metal. Sobretudo os que acolhem nomes como Enforcer ou Cauldron com a naturalidade de quem passou demasiados anos sem que aparecessem bandas de real qualidade dentro deste género. (4/5)

HRR_370_Cover.inddCAPILLA ARDIENTE «Bravery, Truth And The Endless Darkness»
High Roller Records
Apesar do guitarrista/vocalista Felipe Kutzbach e do baixista Claudio Neira pertencerem aos compatriotas Procession e terem uma “escola” doom metal, os Capilla Ardiente são uma verdadeira surpresa em termos de doom sul-americano. O sentimento, a sonoridade e a receita musical apontam todos para «Nightfall», dos Candlemass, mas o quarteto peruano consegue incluir um punhado de elementos musicais próprios, seja nos dois interlúdios atmosféricos e instrumentais, seja no tom agridoce e épico de Kutzbach. E o resultado – intenso e a cheirar a clássico por todos os lados – é provavelmente a melhor coisa que aconteceu ao doom/heavy metal épico este ano. (4/5)

ChapaZero_ChapaZeroCHAPA ZERO «Chapa Zero»
Ethereal Sound Works
Está a ser um ano particularmente animado no movimento punk rock nacional e, pouco tempo depois da estreia em disco dos Punk Sinatra, eis que chega outro trabalho muito aguardado: o dos Chapa Zero. Mais urgente e primitiva do que a abordagem do projecto de João Pedro Almendra, a proposta dos Chapa Zero rege-se pelos mesmos contornos estilísticos (que são também os dos Peste & Sida, nomeadamente em temas como «É A Crise»), com igual acidez nas letras. O jovem quarteto lisboeta tenta no entanto, embora timidamente, romper com a tradição em momentos como «Vai Lá Vai», que insere um trompete no punk rock com resultados muito satisfatórios. Outras experiências como a versão mais “tecnológica” de «Queres É Aparecer» não correm tão bem, mas o fogo criativo, motivacional e energia vital para o punk rock nacional, esses ninguém tira aos Chapa Zero e a este seu primeiro disco. (3/5)

Dynamite_BlackoutStationDYNAMITE «Blackout Station»
High Roller Records
Quando o ADN rock’n’roll sueco se encontra com a vontade – cada vez mais em voga – de explorar o filão dos AC/DC, o resultado é uma coisa chamada Dynamite. O jovem quarteto tem o seu alvo bem definido e nunca sai do espectro de música que poderia ter sido escrita e gravada pelos irmãos Young, mas fá-lo bem e com uma atitude que desarma. Por isso, é a mesma história de sempre: se procuram os novos AC/DC, «Blackout Station» pode ser um álbum para vocês, cheio de temas simples e de influências blues bem ao alto, ideal para ouvir a grandes velocidades na auto-estrada. Edição em vinil, limitada a 500 unidades em gatefold (350 em vinil “amarelo mijo”, 150 em preto). (3/5)

Enraged_ItsYourFearENRAGED «It’s Your Fear That Feeds Their Power»
Auto-financiado
Apesar de editado há quase ano e meio, este disco de estreia dos holandeses Enraged merece a nossa (e a vossa atenção). Primeiro porque propõe 36 minutos de um death metal vicioso, bruto e tecnicamente preciso por um lado, melódico e com ganchos por outro. Depois, porque é obra um músico ver-se, de repente, sem companheiros de banda quando começou a gravar um disco e não desistir, iniciando um processo de produção e reabilitação da formação que demoraria cinco anos. Felizmente, «It’s Your Fear That Feds Their Power» compensa tudo isso com a mistura certa de Arch Enemy e God Dethroned, salpicada de classe com solos de gente como James Murphy (Testament), Andy laRoque (King Diamond), Christofer Malmström (Darkane) e Jens Van der Valk (ex-God Dethroned). (3/5)

Glutony_BeyondTheVeilGLUTTONY «Beyond The Veil Of Flesh»
Vic Records
Com uma banda que inclui três elementos dos My Own Grave (o guitarrista Anders Härén, o baterista John Henriksson e o baixista Max Bergman) e o cantor dos Setherial Magnus Ödling, os suecos Gluttony andam à caça de sangue e miolos humanos com a sua estreia nos longa-duração. «Beyond The Veil Of Flesh» são 30 minutos de puro death metal sueco old school, ao qual não falta nem a temática zombie/gore nem a sonoridade-tipo sacada por Dan Swanö nos Unisound Studio. É tão original como mais um filme de zombies da escola italiana dos anos 70, mas igualmente divertido. (4/5)

HadesArcher_SlaughtbathHADES ARCHER/SLAUGHTBBATH «Circus Of Abominations/Antichristos Thanatos»
Iron Bonehead
A Iron Bonehead continua a dar-nos oportunidade de explorar o underground sul-americano em forma de lançamentos coleccionáveis e francamente entusiasmantes. Este é editado em LP, limitado a 1.000 unidades e conta no lado A com o black metal pulsante, maligno e ensopado em blastbeats dos Hades Archer, feito especialmente para fãs de Impiety. No lado B estão três faixas dos Slaughtbbath, numa toada mais death metal e obscura mas igualmente rasteira, crua, primitiva e com aquela energia típica que torna a cena sul-americana tão especial. Em termos de extremismo feito com o coração, dificilmente se encontrará melhor. (3/5)

Levities_DeadBouquetLEVITIES «Dead Bouquet»
Raging Planet/Ethereal Sound Works
Um terço punk, um terço garage rock, um terço rock’n’roll, os lisboetas Levities são daquelas bandas que se concentram em fazer a roda andar a uma velocidade apreciável, ao invés de reinventá-la. Por isso, «Dead Bouquet», o seu disco de estreia, contém uma série de canções que, repetindo os elementos musicais das suas principais referências – Pixies, Black Flag, The Stooges – funcionam bem em termos de estruturação, melodia e ritmo. O quarteto tem um bom sentido musical e não intoxica as faixas com pormenores desnecessários, indo ao âmago do punk/rock’n’roll antigo com relativo à-vontade e facilidade. E «Dead Bouquet», não sendo uma surpresa extasiante, consegue convencer com competência e balanço de anca. (3/5)

Noctooa_AdaptationNOCTOOA «Adaptation»
Pesanta Urfolk
Os Noctooa são um quarteto californiano composto por dois multi-instrumentistas, uma violinista e uma violoncelista. Movem-se com alguma graciosidade em terrenos de neo-folk influenciados por Sol Invictus, Death In June e Faun Fables. «Adaptation», o disco de estreia, revela uma formalidade quase ritualista, uma abordagem vocal bem masculina e uma espécie de musicalidade triste (bem) enquadrada pelos instrumentos de cordas de que os Noctooa dispõem. Falta à composição algum brilho que leve os dez temas um pouco mais para terrenos de genialidade, mas os seus 50 minutos acabam por constituir uma boa proposta de neo-folk melancólico, shamanístico e de profundidade inegável. (3/5)

Vainaja_KadotetutVAINAJA «Kadotetut»
Svart Records
Os finlandeses Vainaja deram de caras com uma receita vencedora ao juntarem death/doom metal, letras em finlandês e um conceito que recupera a obscura história de um culto mórbido e assassino que existiu na Finlândia rural no Século XIX. Lento, distorcido e com aquela agressividade e exotismo extra dados pelo dialecto local, «Kadotetut» é doom/death metal old school feito à finlandesa: mórbido, extremo e pesado, mas com um sentido de atmosfera invejável e que acrescenta um ambiente de quase banda-sonora à proposta. Genial. (4/5)

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