HOURSWILL

HOURSWILL_Logo copyComo já vimos tantas vezes por aqui, qualidade é o que não falta à cena portuguesa mas, com a falta de motivação a fazer frequentemente “vítimas” entre os bons projectos, é sempre bom ver aparecer sangue novo. É o caso dos lisboetas Hourswill que, com uma intrigante mistura de death metal melódico, heavy metal, thrash e metal progressivo, estreiam-se nos álbuns de originais com «Inevitable», uma colecção de canções maduras, fortes e coesas. O vocalista Nuno Damião ajudou-nos a conhecer um pouco melhor o grupo.

HOURSWILL_PROMO_PHOTO_2Este projecto tem cerca de cinco anos. Como foi formado e que experiências musicais tinham todos vocês tido anteriormente?
A banda foi formada inicialmente pelo [guitarrista] José Bonito e [pelo baterista] Nuno Peixoto, que já tinham tocado juntos em adolescentes num projecto que acabou por se desintegrar e seguido caminhos diferentes. Eu entrei a seguir e só não entrei logo por motivos de força maior, por assim dizer. Na altura que o projecto começou a dar os primeiros passos, eu não tinha tempo nenhum para me dedicar a ele por estar a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo, mas assim que a situação acalmou e o tempo livre para me dedicar a isto surgiu juntei-me aos outros dois elementos de forma natural e rápida. Como já somos amigos de longa data e temos os mesmos tipos de gostos e influências, bem como acompanhámos os outros projectos uns dos outros aqui na nossa cidade ao longo dos anos, já havia há muito tempo vontade de fazermos algo juntos, o que foi sempre sendo adiado por causa de impedimentos, fossem relacionados com os outros projectos em que estávamos na altura envolvidos ou pura e simplesmente por outras actividades individuais. A partir do momento em que nos juntámos os trêes começámos à procura de outros músicos para integrar a banda, o que se revelou uma tarefa particularmente penosa ao início. Foram-se sucedendo as experiências e entrada e saídas até termos estabilizado com a entrada do [baixista] Ruben Chamusca, do [guitarrista] Rodrigo Louraço, e posteriormente, do Sérgio Melo para substituir o Rodrigo. Ao nível de projectos anteriores, o José é o elemento mais “rodado” com participações em bandas como My Iced Beloved, Thragedium e Dr. Salazar, para citar as menos obscuras, entre vários outros projectos. Eu estive envolvido nos Masque Of Innocence e os restantes elementos em grupos como Raven Dust e Beneath Chaos, que pouco destaque tiveram para lá da obscuridade das garagens e caves húmidas de onde surgiram…

Desde que se iniciou, a banda não teve qualquer mudança na formação, certo? Isso é algo muito pouco habitual – porque acham que aconteceu assim com vocês?
Tal como indicado na pergunta anterior, isso não corresponde totalmente à verdade. O núcleo original da banda nunca mudou, de facto, mas antes de termos estabilizado nesta formação houve várias pessoas que foram passando e participando no projecto, a maioria por muito pouco tempo. A formação só estabilizou e ficou completa com a entrada do Ruben e posteriormente do Rodrigo, que inclusive chegou a participar nas gravações do álbum, com alguns leads e solos de guitarra que se podem ouvir no «Inevitable». Durante o processo de gravação do disco o Rodrigo decidiu sair e a escolha para o seu substituto foi óbvia e estava mesmo à nossa frente: o Sérgio foi quem nos ajudou desde o início no processo de gravação – no papel de engenheiro de som e co-produtor – já estava familiarizado com o nosso material e mostrava-se bastante entusiasmado com o que estávamos a fazer. Convidámo-lo para integrar a banda e ele prontamente aceitou, tendo gravado as restantes partes de guitarra lead, solo, e ritmos.

Editaram um single em 2009 e uma maqueta em 2011. Os temas desses dois registos podem encontrar-se neste vosso disco de estreia?
A maioria sim. O single de 2009 foi uma experiência que decidimos fazer numa fase ainda embrionária do projecto para ver como iria soar e também testarmos as nossas capacidades, sendo que a música editada corresponde a uma versão algo rudimentar do tema «Nothing Divine», que se encontra presente no «Inevitable». Dos temas que foram registados na maqueta, tirando cerca de duas curtas faixas instrumentais, todos os outros fazem igualmente parte do disco. A «Nothing Divine MMIX», como acabou por ser baptizada por nós, chegou a estar disponível para audição via streaming nas páginas oficias da banda: YouTube, Facebook e outras redes sociais. A maqueta não chegou a ser editada e foi produzida para consumo interno, por assim dizer, tendo acabado por servir como uma espécie de pré-produção para o «Inevitable».

HOURSWILL_PROMO_PHOTO_1Pode então dizer-se que a composição do «Inevitable» foi sendo feita ao longo dos anos. As músicas foram mudando muito ou têm basicamente as mesmas estruturas e arranjos desde que foram escritas?
As estruturas-base da maioria dos temas que surgiram primeiro não se alteraram muito desde que foram compostos, mas a nível de arranjos foram sofrendo várias alterações ao longo do tempo em que foram sendo produzidas até chegarmos ao resultado final que se ouve no álbum. Ao longo do tempo é natural que surjam algumas alterações, as ideias vão surgindo e vão sendo feitas coisas diferentes que podem adicionar valor aos temas, mas geralmente, a partir do momento em que ficamos satisfeitos com a estrutura-base de uma canção, as alterações que surgem incidem-se mais ao nível de arranjos.

A mistura de metal progressivo, death metal melódico e algum thrash que caracteriza a vossa sonoridade foi algo que planearam fazer logo desde o início do projecto ou apenas chegaram lá depois dos primeiros ensaios juntos?
Nada neste disco foi planeado com muita exactidão. Haviam algumas ideias e directrizes que queríamos abordar e seguir quase desde o início do projecto, mas foi tudo fluindo naturalmente e não foi nada muito pensado ou estudado ao pormenor. As coisas acabaram por soar assim porque fazem parte das nossas influências e background musical e não porque tenham sido planeadas com cuidado ou algo do género. O «Inevitable» foi surgindo naturalmente na nossa sala de ensaios.

Quais são as vossas principais influências musicais, individualmente e enquanto banda? Consideram que elas estão audíveis na vossa música ou nem por isso?
Temos influências do metal feito principalmente nos anos 80 e 90, o que não exclui nada do que foi feito antes ou depois disso. Basicamente, é o tipo de música que crescemos a ouvir ao longo dos anos. No entanto, cada membro da banda ouve muitas coisas diferentes, nas quais se incluem rock progressivo ou hard rock e vários subgéneros dentro do metal, bem como outras coisas fora desse universo. A diferença de idades entre alguns elementos também ajuda um pouco a essa diversidade sonora que existe nos diferentes elementos que compõem o projecto. O que fazemos acaba por ser uma amálgama inconsciente de todas essas coisas que ouvimos mas, sem dúvida, o que se encontra mais enraizado em nós é mesmo o heavy, thrash e death metal dos anos 80 e 90. Na minha opinião pessoal, e tendo em conta o feedback que temos tido a partir de algumas publicações e público em geral, acho que algumas influências são de certa forma evidentes e outras nem por isso, de todo…

HOURSWILL_INEVITABLE_PRESS_COVER_1As letras parecem bastante críticas em relação à sociedade e ao mundo em geral. Qual é a abordagem: é uma visão totalmente negativista ou existe, nos poemas, algum tipo de esperança?
Posso dizer com toda a confiança que a nível lírico não existe praticamente um raio de luz sequer no «Inevitable»… As letras abordam vários temas e muito criticismo à sociedade e ao estado do mundo em geral, abordando erros do passado, situações do presente e a incerteza quanto ao futuro. A crise económica mundial actual, bem como outras situações que não são de agora e se arrastam há bastante tempo, tiveram uma influência muito grande nos temas abordados. Existe actualmente um clima muito forte de insegurança e receio no mundo por várias situações e que na nossa visão não estão a ser lidados de maneira correcta ou assertiva e não vemos as autoridades responsáveis a dar respostas adequadas às necessidades e problemas existentes. Trata-se de um estado que historicamente sempre deu origem a situações de grande tensão e ruptura. É quase inevitável não ponderar em certas situações retratadas de um ponto de vista bastante negativo. O próprio “homem comum” parece-nos bastante alheado e alienado em relação a estas situações, como se ninguém fizesse ideia alguma de como analisar e atacar os problemas que enfrentamos actualmente, se houvesse sequer vontade para isso. Isto não quer dizer, de forma alguma, que as letras do «Inevitable» reflictam um estado letárgico ou conformista. Antes pelo contrário, as letras são reflexo de um inconformismo em relação a todas estas situações.

Quais são as vossas expectativas para o álbum, em termos de vendas e estatuto que a banda poderá alcançar com ele?
Bom, podemos dizer que não há propriamente expectativas algumas. [risos] O que pretendemos com este lançamento é dar-nos a conhecer ao público e tentar captar a atenção das pessoas para o nosso trabalho. Queremos dar-nos a conhecer o máximo que nos for possível, tanto a nível nacional como internacional, quem sabe. Com o mercado musical da forma que está actualmente achamos que não há possibilidade de se ter grandes expectativas ao nível de vendas. Se conseguirmos esgotar a actual edição e efectuar uma segunda edição do disco em formato físico será certamente uma grande vitória, por assim dizer. A nível de estatuto, nem sei muito bem o que significa “estatuto” ao nível do underground português, para ser sincero… Apenas esperamos que as pessoas apreciem o nosso trabalho, que de certa forma nos vejam como um bom valor emergente no cenário musical nacional e que o futuro à nossa frente traga coisas positivas.

Como encaram a cena progressiva nacional? Existe uma “cena” nacional de metal progressivo, sequer?
Para ser sincero, não tenho prestado total atenção ao que se tem feito ao nível da “cena metal” nacional mas tenho ouvido algumas coisas e pode-se dizer que existe sem dúvida uma “cena” nacional composta por boas bandas de qualidade. No entanto, o que tenho assistido é ao surgimento de vários projectos com estilos próprios e díspares entre si, o que é sem dúvida saudável e tem contribuído para uma diversidade que considero muito interessante. De facto, pode-se dizer que existem alguns clusters de bandas a praticarem estilos semelhantes nalguns casos, mas a nível de metal progressivo, sinceramente não acho que se possa falar em cena. De facto, até compreendemos a necessidade de atribuir rótulos para o público poder identificar as coisas, mas achamos que o rótulo “metal progressivo” é um rótulo que acaba por nos servir mas que é um pouco “pesado” para nós. Quando se fala em “progressivo” normalmente associa-se a músicos virtuosos e de um nível técnico “estratosférico” [risos], o que não corresponde à nossa realidade. De resto, não temos contacto pessoal com nenhuma outra banda que se possa dizer que pratique o mesmo estilo que nós e a existirem, o que é sem dúvida possível, tal semelhança deve-se ao fruto do acaso e não propriamente a uma “cena” existente… Nós pelo menos, a existir, não nos identificamos com ela ou com qualquer outra existente. Identificamo-nos sim com vários projectos nacionais de vários quadrantes que têm demonstrado bastante potencial.

«Inevitable» foi editado em Outubro pela Ethereal Sound Works.
Página oficial

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