SULLEN

Sullen_logotipo copy copyNascidos das cinzas dos Oblique Rain, os Sullen pegam no legado de metal progressivo e atmosférico da extinta banda portuense e acrescentam-lhe vectores mais extremos de ambos os lados do espectro musical. O resultado, audível no disco de estreia «Post Human», respira maturidade, musicalidade e experimentalismo adulto. O guitarrista André Ribeiro e o baterista Marcelo Aires ajudam-nos a conhecer melhor este que será porventura o mais interessante projecto de metal progressivo dos últimos anos em Portugal.

SullenBand2015Falem um pouco da génese da banda. Porque terminaram os Oblique Rain e qual foi a motivação para iniciarem algo com as características dos Sullen?
André: Os Oblique Rain terminaram porque, a nível criativo, começámos aos poucos a seguir caminhos diferentes e distintos. Penso que se pode dizer simplesmente que foi um processo que aconteceu naturalmente e não foi uma decisão imediata. Os Sullen nascem de uma motivação para tentar fazer música descomprometida, que reflita aquilo que somos enquanto pessoas e como vemos o mundo.
Marcelo: Estou totalmente de acordo com aquilo que o André refere, sendo que as discrepâncias criativas se verificavam essencialmente no nosso trabalho com o Flávio [Silva, ex-vocalista e guitarrista dos Oblique Rain], onde cedo se denotou que o mesmo pretendia desenvolver um lado da música que divergia da nossa visão artística, baseada no experimentalismo e imprevisibilidade.

Quais são, a vosso ver, a principais diferenças entre os Oblique Rain e os Sullen?
André: Apesar de sentirmos um enorme orgulho no legado dos Oblique Rain, que aliás também está presente neste álbum como é óbvio, abordamos outras sonoridades mais acústicas e minimalistas. O facto de agora termos teclados também cria ambientes e estados de espírito bem interessantes. E a nível vocal a introdução de tons mais guturais dá uma outra garra e dinâmica a toda a música.
Marcelo: Outra característica da nossa abordagem musical que contrasta com aquilo que tínhamos nos Oblique Rain é a “diluição” do esquema vocalista/banda no colectivo, sendo que em Sullen a voz é encarada mais como um instrumento que vem complementar toda a massa musical, e não como elemento de destaque primordial. Em relação à parte instrumental, esta é agora muito mais progressiva e complexa rítmica, harmónica e melodicamente.

Qual a relação que ficou entre os elementos dos Sullen e o Flávio?
André: Acima de tudo amizade e respeito mútuo. O que fizemos juntos fez-nos crescer como pessoas e músicos e isso é algo que ficará sempre.

A composição “herdou” algum material escrito ainda em ambiente de Oblique Rain ou o álbum de estreia contém apenas música e letras compostas já depois de formado este novo projecto?
André: Musicalmente falando herdou algum – algumas passagens das faixas «Broken Path» e «Become». Mas cerca de 90 por cento deste álbum foi já composto a pensar no que seria os Sullen.
Marcelo: Tal como André referiu, é verdade que algumas das bases em dois ou três temas teriam um esqueleto musical aproximado ao que actualmente podemos ouvir, mas a esmagadora maioria é já abrangida por esta nova fase, até pela distinta direcção que tomámos.

Quais são as principais influências musicais – e outras – que trazem para este projecto? Tudo o que todos os elementos da banda ouvem e gostam é nesta onda ou existe uma “selecção”, de modo a que possa haver coerência na composição da música dos Sullen?
André: A nível musical acho que passa mais por uma questão de sonoridade e ambiente do que propriamente influências mais ou menos directas. A música acaba por ser tão abrangente que num tema é possível ouvir algo minimal e mais delicado e noutro ter um groove grunge ou metal mais técnico.
Marcelo: Todos temos as nossas influências, sendo elas vastas e muito variadas, mas nos Sullen tentamos sempre divergir do previsível e conceber música realmente diferente, que irá sempre depender da mensagem que pretendemos transmitir. Acho que é exactamente aí onde toda a dinâmica musical do «Post-Human» se retrata e onde o podemos encarar como objecto de arte realmente versátil.

Sullen_PostHumanDecidiram gravar uma versão do tema «Redondo Vocábulo» para o vosso disco de estreia. Porquê esta canção e como encaram o resultado final?
Marcelo: Decidimos conceber esta versão do tema do nosso caro Zeca Afonso pois além do nos identificarmos profundamente com o mesmo é, de igual forma, um momento musical que vem muito de encontro à profundidade contemplativa inerente na nossa música. Daí o tributo – não é o típico tema intervencionista, mas sim uma paisagem musical e lírica.

Quais são as temáticas das letras das canções do «Post-Human»? Existe algum fio condutor entre todos os temas do álbum ou cada canção é abordada de forma independente?
Marcelo: Existe efectivamente um fio condutor, daí que o possamos até encarar como um álbum conceptual. Apesar de cada um dos temas tratar de aspectos diferentes nesse todo, no conjunto os mesmos compõem uma espécie de “viagem” por três fases distintas que, de certa forma, vêm de encontro a todo o processo que acompanhou a composição deste álbum: reflexão e a sede de transformação, revolta e purga, culminando na paz de espírito e num claro sentimento de mudança.

Como funciona a composição no seio dos Sullen, normalmente? É um trabalho do grupo todo ao mesmo tempo ou existe uma pessoa – ou mais – responsável pelo grosso da composição, quanto os outros acrescentam apenas arranjos nos seus instrumentos?
Marcelo: No caso específico deste álbum, o grosso ou esqueleto da composição partiu do César e de mim, enquanto os restantes membros se focavam mais em alguns arranjos nos vários instrumentos – não apenas os seus – juntamente connosco em algumas sessões. De qualquer das formas a nossa ideia é intensificar mais o trabalho colectivo no próximo registo, principalmente com os membros mais recentes: o Pedro [Mendes, guitarrista] e o João [Pereira, teclista] especificamente.

Sabendo que já têm a bagagem de experiência dos Oblique Rain, qual vai ser a vossa abordagem aos concertos ao vivo para promoverem a banda e o álbum? Vão tentar fazer o maior número de concertos possível ou vão ser um pouco mais selectivos?
Marcelo: Sem dúvida que iremos ser bastante selectivos nesse departamento. Sullen é um projecto bastante ambicioso tanto a nível musical como técnico/logístico, e para garantirmos as melhores condições possíveis para os nossos espectáculos, será fulcral termos espaços que venham de encontro a essas necessidades. Digamos que não é um projecto que possa ser transposto para a típica apresentação em bar ou clube, e nem nós temos essa pretensão.

Dentro deste espectro de música progressiva e atmosférica, os Sullen são possivelmente um caso único em Portugal. Têm tido muitas reacções de fãs nacionais ao disco? Como são elas, regra geral?
André: Para já ainda não são muitas as reacções porque só passaram uns dias da data de lançamento. No entanto vamos tendo algum feedback bem positivo e que naturalmente nos deixa com ainda mais vontade de trabalhar para transpor este álbum para o palco.

Estão a lançar o disco pelos vossos próprios meios. Qual é a expectativa e como tem estado a correr a experiência?
Marcelo: Até agora está a correr tudo nos conformes. Os projectos com base no DIY têm como principal desvantagem a necessidade de todo o trabalho de gestão dos mesmos, a todos os níveis, incidir exclusivamente sobre as pessoas que os constituem, mas em contrapartida não existem quaisquer barreiras na produção. Desta forma podemos fazer tudo aquilo que bem entendermos da forma que melhor pretendemos e isso traz uma sensação de liberdade criativa inigualável!

«Post-Human» foi editado em Fevereiro.
Site oficial

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